Curso para motorista da PM exige precisão e habilidade
Você está numa viatura com colete à prova de balas, pernas e braços levemente flexionados na posição certa ao volante. Começa a dirigr e tem que ziguezaguear por alguns obstáculos que podem ser pessoas, carros ou postes. Primeiro devagar, depois mais rápido.
Estaciona em uma garagem, mas recebe um chamado e tem que sair imediatamente. Dá a ré e se vê em uma emboscada: o “inimigo” vem em sua direção. Então sai de ré e contorna mais obstáculos. Depois de sair daquele local, estaciona em outra garagem. Outro chamado.
Desta vez você deve fazer curvas abertas em alta velocidade sem perder a estabilidade da viatura. Passa por ruas estreitas e curvas fechadas até chegar ao endereço indicado. Após tantas curvas e correria, o estômago começa a reclamar e o labirinto vai ficando fraco. A preocupação maior: as vidas que você leva e as que você deve preservar ao dirigir em alta velocidade.
Essas são as situações vividas pelos policiais militares que querem se tornar motoristas da PM e para isso precisam fazer o curso de Técnicas de Direção Policial Preventiva, oferecido pela Escola Superior de Soldados da Polícia Militar, que acontece no Kartódromo Aldeia da Serra, em Barueri.
O treinamento
No primeiro dia do curso são feitos exercícios para correção de “vícios” – costumes desenvolvidos pelos motoristas no dia a dia, e de controle de frenagem, noção de espaço e de tempo e tomada de curva. “Nesta semana a gente orienta, especifica e cobra, porém se ele (policial) não se condicionar à aplicação da nova técnica, vai voltar a dirigir com os vícios que tinha anteriormente”, afirma o capitão Carlos Eduardo de Jesus, que comanda o curso desde 2002.
Antes de assumir a direção, os alunos recebem instruções de ergonomia (postura), para que aprendam a dirigir na posição correta. Depois seguem para os exercícios de Slalow, que consistem em ziguezaguear os cones colocados na pista.
A próxima etapa é estacionar de frente, sair de ré e dirigir por cerca de 100 metros e fazer o Slalow na mesma marcha. Neste exercício, o mais difícil é ter noção do que está oculto por trás dos pontos cegos do carro. Terminado o zigue-zague, o aluno encosta a viatura de ré, sai de frente e faz as tomadas de curva. “Nestes exercícios nós trabalhamos tangência, controle de aceleração e ponto de frenagem”, explica o capitão de Jesus.
Os alunos
No intervalo dos exercícios os policiais comentam entre si sobre as dificuldades do treinamento. “Derrubou algum cone?”, “Mais fácil contar os que não derrubei”, “Dificil né?”, dizem.
O cabo Marcos Pinheiro trabalha em Ribeirão Preto e se inscreveu no curso para aprimorar suas técnicas de direção defensiva. Desde o primeiro dia já ficou impressionado com a equipe de professores. Ele conta que se surpreendeu, pois achava que as aulas seriam apenas teóricas.
Wellington Paulo da Silva também busca aprimoramento no trabalho. Durante as aulas, demonstra uma mistura de bom humor e concentração. Conta que todos os exercícios são complicados e exigem paciência. “Nós temos que procurar a perfeição, que só encontramos praticando”.
Robson Belucci está há três anos na polícia e mostra no sorriso a satisfação por estar na turma. “Você acaba percebendo que não sabe nada e tem que começar tudo do zero”. Para ele, a responsabilidade do policial que dirige a viatura é muito grande, pois ele tem não só o volante nas mãos, mas a vida dos companheiros e das pessoas que estão na rua.
Ao serem questionados sobre a maior dificuldade que enfrentaram durante os exercícios, os policiais foram unânimes: “Evitar os vícios ao volante”.
Como entrar no curso
Antes de dirigir uma viatura, o policial passa por uma bateria de exames teóricos e práticos. Assim que passa pelos testes, já está habilitado para o curso e pode fazer a inscrição.
A Polícia Militar faz um planejamento de cursos e estágios todos os anos. Durante a programação, as unidades policiais enviam pedidos para um canal chamado Diretoria de Ensino, que centraliza todas as solicitações. Os pedidos são mandados para a Escola de Soldados, que faz a distribuição das vagas durante o ano inteiro.
As turmas
A cada semana uma turma nova inicia as aulas, que têm duração de cinco dias. Os grupos contam com 24 vagas que são preenchidas por policiais de diversas unidades interessadas. Cerca de 100 alunos se formam por mês e mais de 1.000 por ano.
O capitão de Jesus conta que algumas vagas são concedidas para oficiais do exército, da aeronáutica, para as polícias de outros estados, entre outros. Segundo ele, os policiais que não são de São Paulo sempre se surpreendem com o conteúdo do curso.
Ele lembra que todos os PMs que estão ali buscam melhorar suas técnicas por amor à profissão. “Nós não estamos aqui por dinheiro. Quem está na polícia é porque gosta.”
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