Sambistas lamentam a falta do carnaval em São Carlos
Este ano em São Carlos não haverá carnaval de rua e os tradicionais desfiles das escolas de samba. Mesmo assim há na cidade muitas pessoas que esperam a chegada de uma das mais importantes e tradicionais festas da cultura popular brasileira para celebrarem o samba e a alegria.
Com a falta da festa na cidade, o que essas pessoas farão nos dias que seguem o carnaval? O que elas pensam sobre isso? Será que os carnavais do passado eram melhores? E o samba? Continua o mesmo? A reportagem do jornal Primeira Página conversou com dois são-carlenses que são diretamente ligados ao samba para saber a opinião deles.
Caio dos Santos é músico, apresentador do programa Quintal de Samba, da Universitária FM, presidente da Associação dos Músicos do Interior de São Paulo e especialista em Criação de Carnaval e Gestão e Planejamento de Carnaval. Sambista dedicado há 18 anos, Caio diz o que pensa sobre a não realização do carnaval na cidade.
“É difícil saber que não participaremos da maior festa popular do mundo. Mesmo assim temos que ver o lado bom, o carnaval só pode ser feito a partir de planejamento, é feito por etapas e com antecedência. Soube que a festa não acontecerá por falta de prestação de contas por parte da Liga das Escolas de samba. Temos que entender que o carnaval não é brincadeira, as escolas de samba têm que se organizar, arrecadar verba própria para montar seu carnaval, devem ‘seduzir’ patrocinadores assumindo o formato de projetos culturais que possam proporcionar retornos financeiros que supram os gastos e assim por diante. Sem depender totalmente da prefeitura”.
O músico completa: “A prefeitura, por sua vez, deve reunir os membros das escolas de samba e estipular suas condições, limitar o número de escolas e definir uma verba. Para realizar um bom carnaval é preciso estudo, isso é o que falta em nossa cidade”.
Para Caio, existe uma grande diferença entre o pagode e o samba que é feito com versos coerentes e por quem realmente entende do assunto. “O samba são como poemas cantados, ele nunca sai de moda. Nomes como Jorge Aragão, Fundo de Quintal, Clara Nunes, Cartola, João Nogueira, Noel Rosa, Beth Carvalho, entre outros, são os grandes arquitetos do gênero no Brasil”.
O gráfico Antonio C. Leme, do grupo Samba D’Antiga, é um veterano quando o assunto é samba. Desde criança ele vive no meio tendo convivido com a saudosa sambista Odete dos Santos, ex-presidente da escola de samba “Flor de Maio” que posteriormente deu origem a outras três escolas. Para ele, em mais de vinte anos nada foi feito em prol do samba em São Carlos.
“Se não há verba, não há escolas de samba. É simples. Eventualmente fazemos nossas rodas de samba e além das músicas sempre deixamos um bloco para as marchinhas antigas e para os sambas enredos, assim, criamos nosso próprio carnaval. É o que faremos este ano”.
Sobre os carnavais do passado, Leme diz que eram muito mais divertidos. “Me lembro que além do Flor de Maio, havia os carnavais de clubes com suas escolas de samba, inclusive uma muito tradicional foi da saudosa ‘Maria Tavares’, composta somente pela velha guarda do samba de São Carlos. Eu acho que a principal diferença do carnaval de hoje para o de antigamente é a música. Antes brincava-se o carnaval, cantando marchinhas e hoje brincam cantando funk!”.
“O samba é o patrimônio da humanidade, ele sempre esteve em nossa cultura desde os tempos dos terreiros dos batuques e dos tambores. Salve o samba e todos os compositores brasileiros”, finaliza o sambista.



Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.