Opção pelas ruas está no abandono da família e nas drogas

A mudança de temperatura fez aumentar o fluxo de pessoas no albergue em São Carlos, conforme matéria publicada pelo Primeira Página, porém há aqueles que preferem continuar nas ruas, mesmo com as baixas temperaturas. Os moradores de rua acabam sendo ignorados por muitos e tornam-se uma paisagem urbana dos médios e grandes centros urbanos. Apesar de todos saberem que eles existem, parecem invisíveis aos olhos das pessoas.
Em São Carlos, diversos pontos servem de abrigo para estes moradores de rua. A Estação Ferroviária, hoje denominada “Estação Cultura”, é a moradia de alguns homens e mulheres. A marquise da Catedral de São Carlos Borromeu também serve de abrigo. Na avenida Getulio Vargas, escombros de construção também se tornaram “casas” para moradores de rua. Uma situação preocupante, uma vez que estas pessoas estão à margem da sociedade e sem nenhum direito. Mas o que leva uma pessoa optar pelas ruas?
A resposta ao questionamento vem da fala de João Carlos Santos. Morador de rua há mais de 30 anos. Vindo de Minas Gerais, Santos é figura conhecida de todos na região da Estação Ferroviária. Está ali já há algum tempo e faz do espaço público sua moradia. Mas também já esteve em outras cidades. Vive no trecho, um período em cada lugar. “Não deu certo com minha família, vim para rua e aqui estou. Faz um tempão, 30 anos já que moro aqui. Não gosto de albergue não. Prefiro a rua”, relata Santos, que aparenta ter mais de 50 anos.
Na rua, Santos encontrou amigos, fez uma nova família. Divide espaço com a garrafa de cachaça. “Ela esquenta do frio”, garante. Mais três amigos e dois cachorros. Fiéis escudeiros. Sempre alertam quando chega uma “pessoa estranha em sua casa”.
Benedito, assim um homem aparentando também mais de 50 anos, se apresentou. Disse que as drogas e a bebida o levaram para rua. “Comecei a beber e minha família não aceitou. Meus filhos nem sem onde estão. Me mandaram embora e tô na rua muito tempo (sic)”. Além da pinga, “amiga que esquenta”, Benedito afirma que as drogas, principalmente o crack, o levaram para rua. “Tô no crack, fazer o quê?”, relata.
Na catedral, a equipe de jornalismo encontrou Paulo Oliveira, 49. Ele disse ser formado em Administração e hoje mora nas ruas, em casas abandonadas e cata latinhas, sucatas e papelão para sobreviver. “Fui da maconha ao crack. Da cerveja a pinga e minha vida se acabou. Tudo porque minha mulher foi embora com meu filho. Nunca mais os vi. Fico de cidade em cidade. Aqui estou há cerca de três semanas”, conta.
Oliveira disse ainda que não gosta do albergues por privarem sua liberdade. “A rua é melhor. Me viro com a sucata”, conta. Do lado de fora da escadaria da Catedral estava seu carrinho onde armazena o material que recolhe.
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.