PMS treinam forte para manter soberania na mata

Em um grande terreno abraçado pela mata virgem da Serra da Cantareira, na região do Tucuruvi, zona norte de São Paulo, o verde do uniforme da tropa do Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar se mistura ao da floresta que cerca o circuito de treinamento do 4º Batalhão de Polícia de Choque (4º BPChq).
É neste local que os “guerreiros” do COE, como são chamados, treinam todos os dias para encarar a qualquer momento as ocorrências envolvendo operações especiais e estratégicas.
O COE é a 1ª companhia do 4º Batalhão de Choque da Polícia Militar de São Paulo e nasceu no ano de 1970 em virtude dos movimentos de guerrilha que se opunham ao estado e que, de acordo com a visão da época, precisavam ser combatidos.
Foram feitos testes com mais de 150 policiais voluntários que tinham como principal característica serem ex-combatentes da Brigada de Paraquedistas do Exército Brasileiro. Após passarem por exames físicos e psicotécnicos, o capitão Raimundo Mota Libório – fundador do COE – recrutou 33 homens no dia 13 de março daquele ano.
Como as missões da tropa contra a guerrilha aconteciam na mata atlântica, a maioria dos treinamentos do COE eram feitos na serra do mar e da Cantareira. Na época, muitas pessoas praticavam ecoturismo e acabavam se perdendo na mata, por conta disso, com o passar dos anos, foi acrescentado à tropa missões de caráter secundário para o resgate dessas pessoas, pois o grupo era o mais preparado para operar naquelas áreas.
No ano de 1982, o COE foi o grupo que desarticulou o primeiro sequestro de aeronave no país. A atuação da tropa foi considerada pelo Exército uma ação de “Comandos” . Isso fez com que fosse concedido à unidade o título de “Comandos”. O COE é a única tropa policial no país com este título.
Hoje, o COE trabalha em patrulhamento de locais de alto risco, pela mata, mar, favelas e grandes centros urbanos, onde todas as operações são feitas de forma totalmente técnica.
Os homens do COE tem como característica atuar a pé, trabalhando 12 horas, ou até mais, nas missões. Para isso é preciso que o policial tenha força e resistência, não só física como mental.
Para que um policial militar faça parte do COE é preciso que ele tenha dois anos de polícia, nenhuma falta desabonadora, passe por uma entrevista e seja investigado sobre sua conduta na PM através do setor de informação. Passando por esta fase, o policial começa o curso de Operações Especiais.
No curso, é exigido muito esforço físico e psíquico do policial que, pela intensidade dos exercícios chega a perder, em média, 14 quilos em 45 dias.
De acordo com o comandante do COE, capitão Iron Sérgio, para que o COE continue atuando com excelência é preciso que aconteça a troca de experiências com outras tropas especializadas ao redor do mundo. Policiais da tropa são constantemente enviados para participar de cursos de atuação em favelas com o Batalhão de Operações Especiais Policiais (BOPE), do Rio de Janeiro, guerra na selva com o Centro de Instrução de Guerras nas Selvas (CIGS), do Exército brasileiro, curso de bombas e tiro nos Estados Unidos, salvamento em altura, embarcações e mergulho.
Treinamento na França
É o caso do sargento Cristiano Roberto Baptista da Silva, sete anos de COE, que participou do curso de Comando de Operações de Investigação e de Socorro em Montanha, ocorrido no Centro nacional de instrução de esqui e de alpinismo da Gendarmerie (força policial francesa) da província de Chamonix, na França.
No curso, foram desenvolvidas técnicas utilizadas pela Gendarmerie Nacional e aprendidas na prática em montanha ou em local de difícil acesso durante eventos de grande amplitude como catástrofe aérea, avalanche, desmoronamento de terreno e etc.
Além do sargento Cristiano, participaram outro policial brasileiro, do BOPE, dois Gregos que trabalham como voluntários em um grupo de resgate, dois bombeiros de Oman e um policial da Gendarmerie romena.
Os participantes do curso eram testados durante situações que simulavam resgates reais em acidentes e desastres envolvendo montanhas.
“Eles passavam as coordenadas do acidente, com os detalhes do local e das vítimas, o professor saía da sala de comando e voltava cinco minutos depois para saber qual seria o nosso plano de resgate. Tínhamos que aprontar todo o roteiro em pouco tempo, pois eram vidas que estavam em jogo, mesmo que aquilo tudo fosse uma simulação”, explicou o sargento.
A região de Chamonix é conhecida pelo Mont Blanc (Monte Branco, em português), a mais alta montanha dos Alpes e da Europa Ocidental, que pode chegar a uma temperatura de 30 graus abaixo de zero com tempo ruim.
“Quando subíamos no Mont Blanc, a temperatura variava entre seis e nove graus abaixo de zero, a neve congelava as mãos e pés, tínhamos que limpar sempre o nariz para não congelar também”, contou Cristiano. Segundo ele, “foi impressionante o realismo das simulações e a seriedade de toda a equipe que participou”.
Em um dos simulados, um grupo de 30 estudantes e dois professores se acidentou após uma tromba d’água cair sobre eles, fazendo com que alguns ficassem feridos e outros mortos. Com a ajuda de alunos de outro curso da própria polícia francesa, o grupo iniciou o plano de resgate para depois concluir a missão no local do acidente. “O ambiente ficava sempre tenso, a seriedade do grupo era tanta que a operação de resgate não parecia nem um pouco uma simulação… A gente treina sempre, mas na hora que acontece tudo pode ser diferente”, concluiu o Sargento.
No COE
A Operação Saturação é um exemplo de como o treinamento dos policiais do COE não se baseia apenas em salvamentos.
Para que operações como a Saturação na Favela de Paraisópolis tenham sempre sucesso, o treinamento do COE é feito todos os dias no 4º Batalhão de Choque, onde há equipamentos que simulam situações de risco e que auxiliam na manutenção física e psíquica dos militares, conhecidos como “os caveiras” de São Paulo, em alusão ao brasão da unidade.
“O homem de operações especiais precisa estar sempre pronto para qualquer missão, por isso nossos treinamentos nas áreas de tiro, mergulho, mata e altura são muito fortes”, completa o capitão Iron.
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