Zanetti sai do anonimato para o ouro olímpico
Pouca gente conhecia Arthur Zanetti fora do meio esportivo antes de o ginasta, de 22 anos, tornar-se campeão olímpico da prova de argolas dos Jogos de Londres, nesta segunda-feira, 6, conquistando a primeira medalha da ginástica brasileira em Olimpíadas.
Bem menos badalado do que seus colegas de seleção brasileira Diego Hypólito, Daniele Hypólito e Daiane dos Santos, Zanetti chegou onde nenhum compatriota jamais tinha ido ao bater o tetracampeão mundial e medalhista de ouro em Pequim-2008, Chen Yibing, para levar a medalha de ouro na capital britânica.
O brasileiro, o último a se apresentar na North Greenwich Arena entre os oito finalistas olímpicos, terminou em 1o lugar com 15.900 pontos, ante 15.800 do chinês e 15.733 do italiano Matteo Morandi, que ficou com o bronze.
A nota de Zanetti ficou bem acima dos 15.616 que ele obteve nas eliminatórias, quando não apresentou sua série mais difícil. Ao ser o último a se apresentar na final, ele já entrou na competição sabendo o que seus adversários tinham conseguido.
Após a entrada oficial dos competidores no ginásio, Zanetti saiu da arena para uma área de aquecimento enquanto Yibing iniciava a primeira série da final. O brasileiro só voltou perto da hora de fazer a sua apresentação, e sabia que a pontuação dos adversários o deixava em condições não só de subir ao pódio, mas de buscar o título olímpico.
“Quando eu olhei a nota dele (Yibing) eu falei ‘não é impossível’. Eu sabia que era muito difícil mas não impossível, e veio bem na hora certa minha concentração e todo o meu treinamento de longos anos”, disse Zanetti, que antes de Londres conquistou o título da etapa de Ghent da Copa do Mundo com uma nota superior à do título olímpico (15.925).
“Agora eu sou o número 1, mas agradeço a ele por eu ter chegado até aqui, porque foi treinando para derrubar ele que eu consegui chegar”, acrescentou Zanetti sobre o rival chinês, que venceu o brasileiro no Mundial do Japão no ano passado. Naquele torneio, o chinês teve uma nota de partida maior que a do brasileiro, que mudou a sua série para ter a mesma nota de partida que o adversário na Olimpíada.
“Com a mesma nota de partida a diferença seria na execução e a minha série foi muita boa, praticamente sem erro. Dei um passinho a mais na saída, mas foi só um décimo que perdi”, afirmou o brasileiro, que foi o mais aplaudido na arena ao encerrar sua apresentação.
“DIVISOR DE ÁGUAS”
A competição no Japão, em outubro de 2011, foi a primeira aparição de Zanetti num grande torneio internacional e, apesar da medalha de prata, ele saiu do torneio ainda como um desconhecido no Brasil.
Ele pratica o esporte desde os 7 anos na Sociedade Esportiva Recreativa Cultural Santa Maria, em São Caetano do Sul (SP), uma associação financiada pela prefeitura e que conta com a ajuda dos pais dos atletas para se manter, inclusive com equipamentos fabricados pelo pai de Zanetti.
Somente a dois meses dos Jogos Olímpicos Zanetti conseguiu seu primeiro patrocínio e, assim como praticamente todos os medalhistas olímpicos do Brasil, espera que o resultado abra novas possibilidades para sua carreira e o esporte amador no Brasil como um todo.
“Todo o trabalho é desde lá atrás, é feito na associação de pais, os pais dele ajudam, a prefeitura ajuda, então não é uma coisa feita agora”, disse o técnico Marcos Goto, que selecionou Zanetti entre um grupo de crianças para treinar ginástica por causa de sua baixa estatura (atualmente tem 1,56m) e da agilidade.
“Espero que isso seja o divisor de águas no país, que o próprio país possa enxergar que os atletas com pouco apoio conseguem uma medalha de ouro, se tiver mais apoio na ginástica e em outras modalidades também menos privilegiadas, que não seja o futebol, vai ser uma grande mudança”, acrescentou.
A primeira medalha do Brasil na ginástica era aguardada desde que Daiane dos Santos conquistou o título mundial do solo, em 2003, e tornou-se uma celebridade esportiva no país. Então favorita na Olimpíada de 2004, ela frustrou as expectativas na final do solo ao pisar fora do tablado.
Em 2008, a esperança se voltou para o bicampeão mundial Diego Hypólito, mas ele também falhou ao sofrer uma queda no solo. Um novo tombo em Londres deixou Hypólito fora da disputa de medalhas, enquanto a equipe feminina não classificou nenhuma ginasta para as finais, num reflexo dos problemas enfrentados na preparação para os Jogos – incluindo o corte às vésperas da competição de Jade Barbosa, a melhor ginasta do país.
Zanetti garantiu que não sentiu qualquer pressão extra pelas decepções anteriores e que fez um bom trabalho psicológico para manter a concentração. Segundo seu técnico, a missão de Zanetti era competir para ele mesmo.
“A gente não tinha que provar nada para ninguém, mesmo que ele tivesse sido campeão mundial e fosse conhecido. Ele conhece todo o trabalho que nós fizemos até aqui e sabia qual era o nosso objetivo”, disse.
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