Produtos químicos transformam UFSCar em ‘bomba relógio’, relata Sindicato
“É uma bomba relógio. Prestes a explodir”. Foi com essa frase que alguns funcionários que atuam na Unidade de Gestão de Resíduos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) sintetizaram as precárias condições de armazenamento de produtos químicos na área norte do campus.
Produtos como metanol, etanol, ácidos, amônia, solventes clorados, clorometano, nafta, clorofórmio–contaminantes do solo e inflamáveis– estão armazenados em um galpão com as laterais abertas e apenas protegidas por toldos desgastados com a ação do tempo.
A reportagem do Primeira Página visitou o espaço com o Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Universitários (SintUFSCar) e constatou a precariedade no armazenamento. A viatura que recolhe os produtos químicos não oferece proteção aos funcionários que trabalham na coleta do material, muito menos as inscrições que a relacionam ao transporte de inflamáveis.
O coordenador do SintUFSCar, Sérgio Pinheiro Nunes, compara a Unidade de Gestão de Resíduos, guardadas as devidas proporções, à tragédia de Mariana (MG). “O espaço coloca em risco a integridade física dos trabalhadores, dos estudantes e dos docentes. Não sabemos até que ponto o contato com os produtos podem colocar os servidores à exposição de produtos cancerígenos e explosivos”, relata.
O local de armazenamento dos produtos fica, num raio de quatro quilômetros, perto de locais bastante frequentados pela população, como a Unidade Saúde Escola (USE), condomínios residenciais como o Damha, Bosque São Carlos e Samambaia e o cerrado da Universidade. “Nunca poderíamos imaginar uma situação dessa em uma universidade pública”, disse Nunes.
Um conjunto de lâmpadas do Hospital Universitário “Horácio Carlos Panepucci” também foi dispensado na UGR. O coordenador do SintUFSCar relatou que a situação foi levada ao conhecimento da reitoria da Universidade. “Ninguém pode alegar desconhecimento e culpar os servidores pelo manejo incorreto. A situação é pra lá de calamitosa”, explica.
ENGENHEIRO – O SintUFSCar contratou um engenheiro para atestar as irregularidades. Segundo Adaécio Martins Júnior, além do armazenamento impróprio de produtos químicos, os funcionários têm de comprar os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Ele confirmou que outra questão ponderada na sua análise é a falta de acessibilidade nos departamentos da Universidade. “Os mais antigos oferecem as piores condições de segurança, com armazenamento dos produtos químicos, instalações elétricas inapropriadas”, observa.
“Sobre os produtos químicos, não há classificação de risco e o trabalhador não sabe até que ponto pode colocar a sua saúde em risco”, complementa.
O coordenador do SintUFSCar foi questionado se houve cobrança à reitoria da Universidade. “Eles alegam que faltam recursos. O que é lamentável é que a universidade produz conhecimento, mas não aplica esse conhecimento aqui dentro”, lamenta.
JUSTIÇA – A advogada do SintUFSCar, Juliana Pupo Masson, esclareceu que o fato já foi comunicado ao Ministério Público Federal (MPF). “Nós também entramos com ações na Justiça pedindo perícias judiciais para uma análise em cada departamento para corrigir os adicionais que são pagos irregularmente aos servidores, que se sujeitam a condições insalubres”, comenta. Juliana acrescentou que a Universidade realiza perícias, mas na opinião dela, existem falhas nas análises.
Universidade diz que denúncias do SintUFSCar são equivocadas
Em nota, a Administração da UFSCar lamentou que, “por motivos escusos que fogem à nossa compreensão”, a diretoria do SintUFSCar esteja, mais uma vez, promovendo a difusão de informações equivocadas que só fazem alarmar, sem necessidade, a comunidade”.
Segundo o comunicado, “a produção, o armazenamento e o descarte adequado de resíduos potencialmente perigosos é inerente à atividade universitária de ensino, pesquisa e extensão, e a UFSCar conta com os procedimentos indicados para a gestão desses resíduos. O fato de, neste momento, estar armazenada no Departamento de Gestão de Resíduos da Universidade quantidade superior desses resíduos àquela encontrada normalmente, está, inclusive, relacionado à greve dos servidores técnico-administrativos de 2015 – que perdurou por mais de cem dias –, quando o Sindicato infelizmente não permitiu a sua devida manutenção e, também, a realização do processo licitatório que resultaria, como é praxe, na contratação de empresa para execução do serviço de retirada e destinação adequada desse material”.
Segundo a Universidade, o processo será encaminhado assim que os prazos legais o permitirem e, além disso, informamos que um novo edifício para o DeGR já está planejado e que sua construção deve aprimorar ainda mais as condições para a gestão de resíduos na Universidade.
“Quanto à questão da acessibilidade, da forma como está apresentada é muito difusa e imprecisa para que possamos nos posicionar especificamente. Só o que podemos declarar é que a Universidade investe permanentemente nas condições de acessibilidade em seus campi e em todos os seus edifícios e trabalha para diagnosticar pontos críticos e construir as soluções para os problemas identificados”.
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